terça-feira, 10 de abril de 2012

O Conceito de Ciência Técnica e a Indústria Cultural

Como vemos historicamente, no fim do modernismo (século XIX), se deu o ápice da ciência. Nessa época, acreditava-se que o conhecimento solucionaria todos os problemas da vida humana e que o progresso aconteceria de fato. Com o passar do tempo e da tecnificação da ciência transformada em objeto de lucro, Adorno e Horkheimer analisando esse período buscam formular um termo baseado na teoria crítica envolvida no contexto histórico em que viviam, vindo a questionar até que ponto a ciência chegou e de que forma não houve o progresso humano. Para alcançar seu objetivo funcional, a sociedade tecnológica contemporânea e seus principais instrumentos colocaram em funcionamento uma poderosa máquina a seu favor: a Indústria Cultural, termo criado por Adorno e Horkheimer. A indústria cultural detém o poder de formação de consciências através de instrumentos, como a mídia e a arte, ela é necessária para o fortalecimento do capitalismo, e usa desta ideologia para o controle das massas. Transformando a técnica em um poderoso instrumento auxiliar, o qual nos afasta ainda mais do progresso social. Como vemos na obra “Dialética do esclarecimento”:

                       São as condições concretas do trabalho na sociedade que forçam o conformismo e não as influências conscientes, as quais por acréscimo embruteceriam e afastariam da verdade os homens oprimidos. A impotência dos trabalhadores não é mero pretexto dos dominantes, mas a conseqüência lógica da sociedade industrial (...) só os dominados aceitam como necessidade intangível o processo que, a cada decreto elevando o nível de vida, aumenta o grau de sua impotência. Agora que uma parte mínima do tempo de trabalho à disposição dos donos da sociedade é suficiente p/ assegurar a subsistência daqueles q ainda se fazem necessários para o manejo das máquinas, o resto supérfluo, a massa imensa da população, é adestrada como um guarda suplementar do sistema, a serviço de seus planos grandiosos para o presente e o futuro. É sustentada como um exército de desempregados (...)o absurdo dessa situação (...) denuncia como obsoleta a razão da sociedade racional." (Adorno e Horkheimer, p 47, Dialética do esclarecimento).

        Dentre as diferentes escolas filosóficas, parecem ser particularmente os positivistas[1] e pragmáticos[2] que tomam em consideração o entrelaçamento do trabalho teórico com o processo de vida da sociedade, assinalam como tarefa do conhecimento científico a previsão e a utilidade de dados. A essência do iluminismo é uma alternativa da qual a dominação se torna inevitável, tais práticas de dominação são resultado da subjugação da natureza. O iluminismo a serviço do presente transforma-se no total engano das massas.  A razão se tornou mero instrumento auxiliar do aparato econômico. Ela serve de ferramenta universal que se presta à fabricação de todos os outros, rigidamente dirigida para fins.
     Por teoria tradicional, Horkheimer entende uma certa concepção de ciência resultante deste longo processo de desenvolvimento que remonta ao Discurso do Método em Descartes (1596-1650). Descartes fundamentou o ideal de ciência como sistema dedutivo, no qual todas as proposições referentes a determinados campos deveriam ser ligadas de tal modo que a maior parte delas pudesse ser derivada de algumas poucas. A teoria tradicional encontrou amplas justificativas para tal tipo de ciência no fato de que os sistemas construídos são extremamente aptos à utilização operativa, isto é, sua aplicacibilidade prática é muito vasta.  Para Horkheimer, a validez dessa concepção contribuiu para o controle técnico da natureza.
         Chega-se, dessa forma, ao paradoxo de que a ciência tradicional, exatamente porque pretende seu maior rigor para que seus resultados alcancem maior aplicabilidade prática, acaba por se tornar abstrata e muito mais estranha à realidade do que a teoria crítica. A teoria crítica, ao contrário, pretende ultrapassar tal subjetivismo visando descobrir o conteúdo cognoscitivo da práxis histórica. Essa dissociação somente desaparecerá quando as relações humanas, e destes com a natureza, virem a configurar-se de maneira diversa da que se instaura na dominação. Por conseguinte, se a técnica passa a exercer imenso poder sobre a sociedade, tal ocorre, segundo Adorno, ao fato de que as circunstâncias que favorecem tal poder, são arquitetadas pelo poder dos economicamente mais fortes sobre a própria sociedade. Em decorrência, a racionalidade da técnica identifica-se com a racionalidade do próprio domínio. O homem se aliena de seu “eu” através do próprio aparato que criou para garantir a sobrevivência desse mesmo “eu”. 

E você? Já parou pra pensar sobre o reflexo disso na nossa sociedade?
Deveria.



[1] Positivismo é um conceito que possui distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX. Desde o seu início, com Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século XIX.
[2] Esta doutrina metafísica é caracterizada por considerar o sentido de uma ideia como correspondendo ao conjunto dos seus desdobramentos práticos.

sábado, 21 de janeiro de 2012

"Intelectuais, vocês estão mortos"

Desde que terminei, ontem, a leitura de "Os intelectuais e o poder", do italiano Norberto Bobbio, venho me questionando sobre essa falência decretada na filosofia contemporânea acerca dos intelectuais. Teriam eles morrido de fato, ou nossa sociedade achou por bem escondê-los de nós para que não déssemos trabalho?... Acho que morreram todos... a tempos se diz que a filosofia seria uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo permaneceria tal e qual, acontece que agora, toda ciência, todo conhecimento teórico é inútil.
Nas circunstâncias atuais, a relação entre os intelectuais e o poder (relação clássica desenvolvida por Berla (1965), onde estes influiriam, legitimariam, combateriam e se isolariam do poder) foi substituída pela mídia. Não há porque temer os intelectuais, pois suas vozes foram silenciadas pelo estrondoso tintilar das redes sociais... não há porque esperar novos intelectuais, pois o conhecimento fragmentou-se tanto a ponto de sumir...

e agora? que fazer com a inútil filosofia que me restou?...

Donizeti Pugin

De tanta saudade resolvemos voltar

De tanto devanear sumimos daqui... agora estamos voltando ao pique de antes. E aqui é assim, enquanto tivermos coragem, estaremos postando nossas loucuras por aqui; quando cansarmos, iremos pra outra praia. Do mais, sejam bem-vindos ao "Devaneios..."

domingo, 29 de maio de 2011

Somos quem queremos ser?

Aqui estou, solitário em minha cama na madrugada de sábado para domingo... não sei, mas acho que agora irão começar meus devaneios a justificar o blog.

A cada dia mais começo a perceber a fragilidade de nossa existência, nossa fraca e vã existência, sempre mais condicionada num mundo sem opções. Ultimamente desisti de questionar o condicionamento provocado por ideologias cada vez mais imbecis mas capazes de arrastar multidões para começar a questionar a validade de nossa própria existência.

Até que ponto estamos vivendo autenticamente? Como posso confortar-me sabendo que fiz as escolhas certas, se nem mesmo sei se tenho opções ou se sou eu mesmo quem decide. Creio que não deveria me questionar quem sou, mas quem é... quem, nesse mundo é capaz de afirmar sua existência em contraposição ao não-ser... quem pode provar existir sem usar dos meios consensuais que criamos? Como posso afirmar que sou, e pior, que sou o que deveria ser, se não consigo nem mesmo viver essa vida medíocre (ou não) que alguém (quem sabe eu mesmo) escolheu/determinou para mim.

Como saber se estou sendo quem deveria ser se nunca pensei em não sê-lo? Como seríamos hoje se mudássemos nossas decisões passadas, se tivéssemos tido a coragem de fazer o que nossos sentidos ou nossa razão nos incitava? Até que ponto compensa uma vivência ética aos moldes aristotélicos, se essa felicidade for retardada para um futuro que nem sei mesmo se há?

Esse Donizeti, sozinho em sua cama nessa madrugada quase fria é quem deveria ser? é ao menos quem gostaria de ser? ou não lhe imputado o direito de impor sua própria existência? Não quero negar-te, caro Sartre, mas minha existência parece cada vez precedida por minha essência... Sinto-me uma criança que nasceu para preencher uma roupinha vazia... nada mais.

Por: Donizeti Pugin

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ei, amigos... reconhecem nossos amigos? Que tal batermos um papinho sobre as teorias deles??? Paralelos interessantes, não??

Eternos prostitutos do saber...

Essa manhã, participei de um debate em vista da escolha do livro didatico de filosofia para o ensino medio no ano que vem. Após conversarmos muito sobre cada uma das tres opções que tínhamos, chegamos a um consenso sobre um livro, que, segundo nossa vã opinião, seria mais útil devido sua clareza metodológica e linguagem acessível.

Em meio ao debate, não nos atemos ao caráter filosófico dos manuais, mas sim à sua funcionalidade acadêmica. Ora, seria mesmo correto, ao se tratar de filosofia, deixar de lado o manual mais denso, de caráter bem mais filosófico do que os demais simplesmente por não se adaptar à utilidade que pretendemos retirar dele? Lembro-me da contínua afirmação grega da "inutilidade" da Filosofia, enquanto pensamento não condicionado e esteriotipado pela sociedade. E nisso consistia sua utilidade. Era útil e importante pois não se constituia como um saber prático ou poiético mas sim com exercício teórico sobre o Ser (Deus, Homem e Mundo) sem a obrigação de atender às necessidades dos mais abastados e preguiçosos.

Temo estarmos prostituindo nossa querida Filosofia, tal qual os antigos sofistas, pensando apenas numa maneira de tornar agradável algo que, de princípio, não deveria sê-lo. Temo reduzir a Filosofia à simples compreensão crítica da História, o que não corresponde à sua inteireza. Como propiciar uma inciação ao filosofar como queria Kant se nos limitamos a vendê-la de porta em porta como os rapsodos gregos faziam com seus mitos? Como fazer de nossas aulas de Filosofia um lançar-se na Transcendência, para fora de nossa caverna, como queriam Jaspers e Platão?

Terminamos a reunião com uma utópica frase: Quem sabe, um dia, nosso Ensino Medio esteja preparado para usar um manual desse porte nas aulas de Filosofia... quem sabe... só espero estar vivo quando isso ocorrer.

Por: Donizeti Pugin

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Quero me enfiar numa caverna ao modo platônico...

Demorei muito pra postar esse meu devaneio... mas nao consegui aguentar kakakak....

A uns dias atrás, dei como atividade para uma turma de alunos do 1º ano do Ensino Médio a tarefa de lerem o fragmento da "República", de Platão, sobre a alegoria da caverna e que preparassem um teatro apresentanto-a, e, se possível, atualizando-a. Quando vi o resultado quase caí de costas. As duas equipes prepararam teatros quase idênticos, mostrando que, na verdade, pouco compreenderam do texto, o que se percebeu pela apresentação e distribuição dos personagens. Isso me deixou pensativo, pois confirma meu ultimo post, sobre a mediocridade humana, que "força" as pessoas a se acomodarem e não pensarem. Não sei se o problema estava no texto ou no leitor, que pelo visto, precisava ser iniciado na "arte da leitura"... Agora, se alunos que daqui a no mínimo três anos estarão ingressando nas universidades (ou nem isso) não conseguem interpretar um texto, como posso ter esperança de um futuro tranquilo sabendo que essa geração governará meu país quando eu já estiver aposentado...

Pior que isso: depois da obrigatoriedade do ensino de Filosofia/Sociologia no Ensino Médio brasileiro, o Brasil é o país que concentra o maior número de alunos expostos à elas... Que mediocridade nos espera num futuro não muito distante?  Não vejo outra solução a não ser me esconder perto da fogueira da caverna platônica, pois temo que o próprio Sol desanime de brilhar ao perceber quão deprimente é o estado daqueles que julgam ter saído da caverna...

E você, minha cara amiga/caro amigo? andas nessa mediocridade também ou é daqueles que já leram ao menos um gibi da mônica esse ano???...

por: Donizeti